terça-feira, 27 de abril de 2010

Singularidade

Caminha, sozinha, com passos decididos, naquele chão desigual.
Tenta parecer decidida, mas as suas decisões são sempre erráticas.

O cabelo escuro, de dois tons,
vai solto nos dias frios e quando ela quer;
vai apanhado nos dias quentes e quando ela quer.
A pele de alabastro está agora descoberta.

Não gosta do que vê no espelho na maior parte das vezes,
é raro achar que algo está bem.

Não se identifica com a maior parte das coisas,
não entende o mundo nem as pessoas.

Parece estar sempre a tentar provar algo a alguém,
como é diferente.

Sente-se (e sabe que) na maior parte do tempo está sozinha
e às vezes não sabe onde encontrar apoio.

Acha que as coisas mudaram,
mas talvez tenha sido ela quem mudou.
Ainda não sabe bem.

Pergunta-se como será que a vêem
e se realmente a vêem.

A expressão usual é a de testa enrugada e olhos ligeiramente cerrados.
Não sabe se a favorece, mas é a expressão que se lembra de sempre ter.

Caminha, sozinha, com passos decididos naquele chão desigual,
as mãos tocam o cabelo porque não têm mais o que agarrar.
E ela nem se dá conta do que está a fazer.
Nem se apercebe para onde vai.

Silêncio tranquilo


Sob aquele sol abrasador,
encontro-me na sombra reservada.

Os olhos semicerrados pela luz,
o corpo a destilar de alívio.

O asfalto mexe-se sozinho
e não há mais ninguém para o observar.

O silêncio é tranquilo
mas ao fundo ainda se ouve falar.

Está na hora de voltar.


("It's oh so quiet")

domingo, 11 de abril de 2010

Lembra-te de Mim


Dilacerado estás,
por dentro e por fora.

No teu caderno velho, dobrado e amarrotado,
lhe vais escrevendo, falando.
Tens saudades, mas não dizes a ninguém.

Nela e nos seus ímpares olhos azuis,
encontraste um apoio,
algum equilíbrio.

Quando tudo parece tomar um rumo,
partes, inevitavelmente,
e só pedes: "Lembra-te de mim".


(poema inspirado no filme Remember Me).