quarta-feira, 15 de junho de 2011
Vinhas sentar-te comigo, Ricardo
Vinhas sentar-te comigo, Ricardo, à beira do rio.
Sossegadamente fitávamos o seu curso e aprendíamos
Que a vida passa, e não tínhamos as mãos enlaçadas.
(E eu queria tanto que as enlaçássemos.)
Depois, pensávamos, crianças adultas, que a vida,
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Palavras tuas...
Desenlaçávamos as mãos, porque tu dizias que não valia a pena cansarmo-nos...
Que quer gozássemos, quer não, passamos como o rio...
Que mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes...
Sem amores (como o meu), nem ódios, nem paixões (como a minha) que levantam a voz,
Nem invejas (e que inveja eu tinha dessa tua vontade de não te unires a mim, dessa tua ataraxia eterna) que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesses o rio sempre correria,
(E eu nunca fui peixe digno de atravessar o teu rio...)
E sempre iria ter ao mar...
"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,"
Que nunca quiseste que trocássemos.
Pois, "mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o."
Dizias-me para colhermos flores, para eu lhes pegar e as deixar
No colo, e deixasse o seu perfume suavizar o momento - que embora eu ame as flores que colhíamos, nunca quis que nada suavizassem.
Se é que haveria, de facto, algo para elas suavizarem...
E neste momento não cremos em nada,
"Pagãos inocentes da decadência."
E quando fores sombra, lembrar-me-ei de ti depois,
Com a tua lembrança a arder-me, a fitar-me e a mover-me,
Apesar de nunca termos enlaçado as mãos, nem nos termos beijado
"Nem termos sido mais do que crianças."
E se antes de ti levar o óbolo ao barqueiro sombrio,
Tu nada terás que sofrer ao lembrares-te de mim... (a tua incessante ataraxia...)
Ser-te-ei suave à memória, para tristeza minha, lembrando-te assim - à beira rio,
"Pagã triste e com flores no regaço..."
Como eu queria ter sido para ti o que tu foste para mim.
"We could have had it all."
- Lídia.
(poema inspirado numa resposta ao poema Vem sentar-te comigo, Lídia de Ricardo Reis.)
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Bea este está fabuloso!!! Isso é que era inspiração=O keep on =D
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