terça-feira, 27 de abril de 2010

Singularidade

Caminha, sozinha, com passos decididos, naquele chão desigual.
Tenta parecer decidida, mas as suas decisões são sempre erráticas.

O cabelo escuro, de dois tons,
vai solto nos dias frios e quando ela quer;
vai apanhado nos dias quentes e quando ela quer.
A pele de alabastro está agora descoberta.

Não gosta do que vê no espelho na maior parte das vezes,
é raro achar que algo está bem.

Não se identifica com a maior parte das coisas,
não entende o mundo nem as pessoas.

Parece estar sempre a tentar provar algo a alguém,
como é diferente.

Sente-se (e sabe que) na maior parte do tempo está sozinha
e às vezes não sabe onde encontrar apoio.

Acha que as coisas mudaram,
mas talvez tenha sido ela quem mudou.
Ainda não sabe bem.

Pergunta-se como será que a vêem
e se realmente a vêem.

A expressão usual é a de testa enrugada e olhos ligeiramente cerrados.
Não sabe se a favorece, mas é a expressão que se lembra de sempre ter.

Caminha, sozinha, com passos decididos naquele chão desigual,
as mãos tocam o cabelo porque não têm mais o que agarrar.
E ela nem se dá conta do que está a fazer.
Nem se apercebe para onde vai.

6 comentários:

  1. Este poema parece uma experiencia de vida contada de forma minimalista. Leitura leve, mas não parece seguir um padrão de poesia comum.
    3.5 em 5.

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  2. Primeiro, Diogo, não classifiques, isso não é simpático. Depois, o poema está bom, enquadra-se na personagem de Magnólia, pelo menos eu vi isso...

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  3. Obrigada pelo comentário. Curioso, não foi escrito a pensar na Magnólia, mas de facto, encaixa-se... Nota-se que ela ainda está dentro de mim (:

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  4. Gostei :) A forma como descreves fisica e psicologicamente a rapariga e a relação desta com a sociedade está muito interessante.

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  5. Caminhar é estar sozinho. :)
    Encontrar a poesia no caminho é estar em paz com a solidão.

    Buenas palavras!

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