segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Lua Cheia


Já está frio demais para estar fora de casa,
mas ainda o sinto cortante, na cara, nas mãos.

A luz já é fraca
e provém das poucas salas ainda a uso.
A escuridão abate-se sem ser preciso encará-la, o que, no entanto, faço.
Uma estrela tímida descobre-se no meio daquele barulho de que me abstenho.
Olho para todos os lados mas não vejo mais nenhuma, e aquela é tão bonita, tão brilhante...

Procuro então pelo mais importante: a Lua.
Tão perfeita e luminosa, Cheia,
querendo destacar-se naquele céu que quer ser escuro, mas ainda não é.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Bolhas de sabão


Olho para a caixinha, e logo me lembro:
recordações da pequena mãozinha que a segurava,
e a pequena boca que soprava.

Por magia, via as bolhas de sabão flutuar,
umas preferiam o chão,
outras as alturas.

Coloridas, de mil reflexos,
rebentavam divertidas,
uma a uma.

E agora, fazem o mesmo,
umas preferem o chão,
e outras as alturas.

Coloridas, de mil reflexos,
rebentam divertidas,
uma a uma.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Flor invernil


O sorriso que agora trago,
é como uma flor que decidiu florescer no Inverno,
depois de uma apatia imensa, pelo sol, pela água.

As coisas mudaram,
mas verdadeiramente nada mudou,
nada é novo.
Acho que fui eu que mudei.

As razões são desconhecidas,
ou talvez difíceis de mostrar.

É como uma flor que decidiu florescer no Inverno.


(esta foto tem direitos de autor: Christina Ramos "Chris" em http://exposicaoaberta.blogspot.com/)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Branca de Neve


"Lábios vermelhos como uma rosa,
cabelo negro como o ébano
e pele branca como a neve.
Ela é a mais bela".

Memória de princesa preferida,
de músicas esquecidas,
gestos escondidos.
Nostalgia permitida.

As caras doces,
os olhares gentis,
trazem a alegria passada
e o medo tonto de criança.

A perfeição da inocência
e a inocência da perfeição,
ali, numa história de crianças.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Estado


O caminho de pedras de calçada
branco sujo,
com a grade, os arbustos de folhas grandes de um lado,
o vazio, o barulho, as máquinas mortas do outro,
dizem-me que tenho de ir.

Quero voltar para trás, mas as pernas avançam maquinalmente,
como se alguém lhes tivesse dado corda
num segundo de distracção.

O vento, gentilmente, refresca a minha cara, gelando-a.
Ergo a cabeça para o céu, num suspiro conformado
e vejo-o cinzento.
Um cinzento escuro, muito escuro,
terrivelmente escuro, quase tão escuro como carvão,
onde as nuvens movem os corpos indefiníveis, rapidamente,
numa sensação de desânimo permanente.

Ora desabafam chorando grossos pingos de chuva que caem furiosos no asfalto culpado,
ora disfarçam o choro com a chuva que mal se sente,
que cai surdamente nas folhas caídas, secas, por estalar.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Desabafo




Desvaneceu-se sem me ter apercebido.

Era uma amizade disfuncional,
mas era amizade.
Agora, olhas para mim como se fosse uma estranha,
e é o que acabo por ser,
tal como tu acabaste por sê-lo para mim.
Mas já não há retorno, manternos-emos assim.

Talvez a culpa tenha sido minha, talvez,
mas pura e simplesmente não podia aguentar mais.

Lamento.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Estilhaços de uma noite


Destruído, estilhaçado, dilacerado...
Tudo acabou...

Num segundo, aquilo que era perfeito,
a única coisa que me fazia suportar tudo e todos,
saltou com força das minhas mãos escorregadias,
caindo, inevitavelmente, no chão duro de pedras negras, que se riem de mim,
que troçam da minha ingenuidade,
estilhaçando-se em mil pedaços.

Caio sobre aquela destruição,
que me destrói lentamente o corpo e a alma.
As lágrimas escorrem pela minha cara,
terminando no todo que agora está dilacerado,
fazendo eco, um eco sem som, que ecoa na minha cabeça,
tombando-a no chão.

As minhas mãos sem vida procuram
os pedaços do que está acabado para sempre.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ensaio


A vida vai passando pelos meus olhos,
pelo meu corpo,
pela minha alma.

A cada segundo,
a minha maneira de olhar o mundo,
o meu corpo, a minha alma,
mudam.

E talvez não seja uma boa mudança,
ou talvez seja.
Não sei e acho que ninguém sabe.

E sinto que sou a única,
e não sou...
Bem, realmente não sei.


(originalmente escrito em Inglês)