quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Frio

Cada um no canto do cubo.

Tenho o corpo gelado, mesmo estando coberta,
mas o coração tenta aquecer.
Quem disse que era fácil?

O silêncio é o melhor tratamento,
mas há silêncios demasiado dolorosos,
eu conheço parte deles.
O silêncio é a resposta fácil para o orgulho,
o meu orgulho que nunca cessa.

Não sei que diga,
não sei se sei usar este orgulho que me consome.
Será faca de dois gumes?
Será protecção?
Ou será ferida?
Não sei que diga.

Ah palavras...!
Palavras cogitadas,
palavras ditas,
palavras causadoras.
Palavra última,
custe o que custar.

sábado, 29 de novembro de 2014

O aperto

Como um lenço rendilhado,
esburacado,
amachucado,
maltratado.

O buraco negro abre-se,
negro, tão negro.
Mais negro que a negritude de uma noite de Inverno,
e está frio, tanto frio...

As mãos gelam-se,
o coração sangrou,
a água brotou,
o peito abriu,
a dor saiu.
Mas também ficou.

Quem foi?
Quem disse?
Quem atirou?
Quem negou?

Dói,
abre a dor.
Diz-lhe para ficar.
Diz-lhe que sim.
Aceita, espera que fique.

Verdade.
Qual é o rumo?
A dor saiu,
presa num soluço,
num sacudir do corpo.
Mas também ficou.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

No labirinto,
na paz,
no espírito,
na alma,
no dia,
na noite,
na madrugada.

Disse quem era,
falou,
disse,
mostrou.

O fundo é mais verde que o verde do mundo,
mais fundo que eu,
mais fundo que tudo.

Fui um pouco a medo,
sem saber,
mas depois fui tudo.
Foi tudo.
Foi mais e melhor.

Foi lágrimas e sal,
foi suor e ardor,
foi sorriso e amor.

Foi doçura e ternura,
foi um abraço apertado
e um beijo prolongado.

Foi página aberta,
foi sonho partilhado,
foi palavra sussurrada,
foi amor dito e provado.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O poder

Há quem o tema,
e há que o tenha.

O poder do toque.
O poder da destruição.

Quem disse que o queria,
muito se enganou.
Quem disse que o desejava,
não sabia.

O que estava inteiro,
num segundo se desfez.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A Canção

Gelo é um,
Fogo é outro.

O gelo é frio,
queima-me ao toque.
Cristaliza-se,
eterniza-se,
memoriza-se.

O fogo inflama numa pequena labareda,
às vezes, numa pequena chama.
E queima eternamente.

Um é gelo,
outro é fogo.
Quero os dois,
sei que não posso.

Não quero escolher,
e eles não se podem fundir.
Anulam-se
e não se separam.

Quero cristalizar-me e quero arder.
Quero negar-me e quero saber.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Querer

Quero ser eu
e quero ser muitas.
Quero desdobrar-me e ser mil.
Quero ser outras.
E quero ser eu multiplicada.

Quero o dia e a noite
e quero os dois num só.
Quero ser madrugada.

Quero consumir-me em mim mesma,
depois de esmorecer,
depois de me desfazer.
Quero ser reinvenção,
sem expressão.

Quero desfragmentar-me e ser colada de mil formas,
dar resultados multiplicados.
Com ou sem resto de zero.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Mais um

No entardecer rápido e gelado,
ela caminha, decidida a não se atrasar,
a não ser igual aos outros,
mas a não ser mais,
nem menos, que eles.

Ela nunca sabe o que há-de ser,
nem sabe o que é,
nem o que foi.
Sabe o que os outros são,
mas só às vezes.

Diz que quer ir,
mas às vezes, quer ficar.
Vai na corrente.
E às vezes é ao contrário.

Consegue ser uma dualidade infinita de coisas,
como o cosmos e todas as coisas tangíveis e intangíveis que compõem um ser,
os seres,
o mundo.

Diz que é um,
mas que também é o outro.
Não sabe, portanto, quem é.
Velha?
Nova?
As duas...?
Nenhuma...?
Quem sabe...?

É tudo e é nada,
é muito e é pouco.
Às vezes não é coisa nenhuma.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Ledo engano

Foi engano?
Foi ledo?
A vontade irascível de ser mais,
de ter mais,
de nunca parar,
de nunca me saciar.

A frustração.
A fome.
A infelicidade.
A inconstância.
O bom e o mau.

Exigir.
Impor.
Carecer.
Precisar.
Saber.
Odiar.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Insónia



Revolvo o corpo no lençol,
tento esvaziar a mente,
fecho os olhos,
e digo a mim mesma que tenho de dormir.

Há noites assim,
em que o corpo não quer descansar,
não quer desligar,
não quer que o dia acabe e comece um novo.

A cabeça revolve as mesmas músicas,
vezes e vezes e vezes, sem conta,
os mesmos pensamentos,
que já foram pensamentos de outros dias e de outras noites,
de outras horas,
e que por vezes julgo esquecidos e apaziguados na alma e no coração.

Pensamentos trazidos por palavras,
por imagens,
por memórias,
que não foram além do que agora é o passado,
e que não sabem existir segunda vez,
a não ser quando revividos na minha mente.

Convenço-me de que "o que tem de ser, tem muita força",
mas também me pergunto como seria,
se as coisas tivessem sido diferentes,
e se elas ainda podem ser diferentes,
como é que eu seria se elas fossem diferentes.

Há noites assim,
em que a cabeça não pára,
trabalha mais do que durante o dia,
amassa as mesmas ideias uma e outra vez,
faz as mesmas perguntas um número infinito de vezes,
e dá mil e uma respostas.

Há noites assim.



domingo, 22 de julho de 2012

Além

Lá além,
não muito longe,
na verdade, bem perto,
há coisas que nunca mudam.

A água que se desenrola,
lentamente, por vezes,
outras, com força,
nunca sai do mesmo sítio.

Vai e volta,
banha quem lá vai,
devolve o que quer
e também leva o que lhe apraz.

Lá além,
não muito longe,
há coisas que nunca mudam,
nós é que nunca somos os mesmos.


Foto retirada de: http://sanigourmet.gr/blog/2012/04/instalovers_gr-clubsocial-instagramhub-igerseurope-igers-igersgreece-sea-saniresort-beach-from-instagram/

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sete

Vagueio sempre pelos mesmos sítios,
sempre na minha companhia,
sempre sem ritmo,
sem horário.

Vou de olhos abertos,
mas parece que não vejo o que me rodeia.
Só vejo aquilo em que penso,
pois os meus pensamentos flutuam.

Quando volto a conseguir ver,
só há verde à minha volta,
e um sentimento de comunhão pleno e puro.

Sinto a força que os músculos das minhas pernas têm de fazer para subir os montes,
sinto a terra do chão que se entranha nos meus pés descobertos,
as pedras e galhos que por ali andam,
e que podem dificultar a minha progressão.

Vejo borboletas pousadas nas flores,
sinto o cheiro das árvores variadas,
sinto a natureza entranhar-se em mim.

E por momentos sinto que não há local mais tranquilo que aquele,
que não posso atingir a paz e a quietude em mais lugar nenhum
e sei que não há sítio mais bonito que aquele.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O inconfessável

É algo que "nem às paredes confesso".
Acho que nem a mim tenho coragem de confessar.

Há coisas que não se definem.
Pura e simplesmente não são pretas ou brancas.
Acho que finalmente acredito nisso e compreendo.

Há coisas que não se definem.
Não consigo definir o que sinto por ti.
Se é apenas o conforto que me trouxeste durante anos,
se é o laço invisível que me liga para sempre a ti, mesmo que não estejas comigo.
Mesmo que já não haja memórias recentes.
Mesmo que já não possas sentir o que sentias, e que eu nunca vi e não soube apreciar.

Sei que te amo. Isso sei.
Mas não sei de que forma.
Não sei se da mesma forma que tu, se de outra parecida ou oposta.
Sei que te amo. Isso sei.

Gostava de ouvir a tua voz, ou apenas ter uma notícia tua.
Gostava que te chegasses a mim, verdadeiramente,
e não ficasses por um aceno.
Um aceno que nem soube o que queria dizer.
Mas que me deu esperança, na altura.
Agora, quero mais.

Serás capaz disso, ainda?
Serás capaz de te aproximar de mim, sem medos, sem feridas antigas?
Eu queria.

Será um capricho meu?
Não, acho que não.
Espero que não.
Sei que não.

Estará um futuro reservado para nós?
Caminhos que foram trilhados durante anos, lado a lado,
que por um infortúnio se desviaram um do outro,
e que por um acaso, por algo, se voltarão a encontrar?
Serão trilhados lado a lado, novamente?


("I'm always in this twilight." - Florence & The Machine)

domingo, 15 de janeiro de 2012

Sinto vontade

Sinto vontade de correr na relva,
sem nada que me prenda,
sem saber para onde vou,
sem saber quando vou parar,
sem me cansar.

Sinto vontade de ouvir os pássaros à minha volta,
de inspirar bem fundo
e de só ver coisas bonitas que enchem a alma.

Sinto vontade de ler um bom livro,
de me perder nos confins da imaginação,
de ir ao cinema,
de escrever,
de ser gente.

Sinto vontade de ser mais.

Sinto uma vonta imensa, frenética, à minha volta,
e dentro de mim.

Sinto vontade deste poema.
Sinto vontade.

domingo, 18 de setembro de 2011

Era uma vez


Era uma vez uma princesa.
Ela era uma princesa como aquelas das histórias.
Ela ainda não tinha tido o seu conto de fadas,
nem tinha encontrado o seu príncipe,
até ao inesperado dia em que ele apareceu.

O príncipe fazia da princesa a rapariga mais feliz do mundo
e a princesa nunca quis mais ninguém.

Mas o príncipe também tinha o seu lado negro,
e a felicidade foi sendo consumida, pedacinho a pedacinho,
até ao dia em que tudo o que ele lhe fazia era mal.

O sofrimento e a angústia corroíam a alma e o espírito da princesa,
e ela estava perdida, sem saber o que fazer.

Ela queria acreditar que o amor que os unia curaria tudo,
todos os obstáculos, todas as desavenças.
Porque a princesa acreditava no seu conto de fadas,
e acreditava que aquele era o seu príncipe.

Até ao dia em que eles tiveram a despedida errada.

Cada um seguiu o seu caminho,
sem mais nada.
Era uma vez.


("If two people are meant to be together, eventually they will find their way back." But how do you know if it's meant to be?)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A bala


Decidiste puxar o gatilho naquele dia.
Mas a bala não veio logo ter comigo.
Ela parou várias vezes.
Eu pensei que ela voltasse para trás.
Mas ela apenas estava à espera do momento certo para me atingir.
Porque ela nunca voltou para trás.
Parou e avançou lentamente.

Até ao dia em que me atingiu no coração.

Uns dizem que não tens mais balas na tua pistola,
e outros dizem que talvez vás puxar o gatilho outra vez.

E tu, que dizes?
Não dizes nada.
Limitaste-te a deixar que a bala me atravessasse o coração.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Estátua

Imóvel, desprovida de nada.

Aquela figura de olhar vazio e concentrado,
fixado no horizonte,
bem longe de tudo e de todos.
Mergulhada nos seus pensamentos, que podem ser bons ou maus, ninguém sabe.

E por momentos ela sai dela própria,
deixa de ser quem é
para encarnar uma qualquer personagem.
Ninguém a conhece,
ninguém lhe sabe o nome.

E não seremos todos nós uma estátua, pelo menos uma vez na vida?

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Maior do que eu


Este amor que sinto,
que não pára nunca de crescer,
é maior do que eu.

Não há nada que me faça mais feliz do que as palavras dele,
não há nada que me faça sorrir, mais do que os elogios dele.
Este amor que sinto,
que não pára nunca de crescer,
não me cabe no coração.

Este amor que sinto,
ultrapassa-me.

Este amor que sinto,
é maior do que eu.


("This is bigger than us.")

My man

O meu... tudo.
Não há palavras suficientes que descrevam o que ele é para mim.

Ele faz os meus dias melhores.
Ele faz os meus dias mais bonitos.
Ele faz os meus dias mais alegres.
Ele faz os meus dias mais cheios.

Provavelmente ele nunca terá noção do quanto eu gosto dele...
Mas eu quero provar-lho todos os dias,
quero provar-lhe o quanto eu gosto dele,
todos os dias.


"Oh whatever my man is, I am his, forever more."
(Talvez não seja o meu melhor, mas é sentido <3)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A única excepção


Lembro-me de sempre ter querido alguém como ele.
Mas nunca ter encontrado.

Lembro-me de sempre ter esperado por alguém como ele.
Mas esse nunca ter chegado.

"Porquê?"
Perguntei-me muitas vezes.
Porque ele ainda não tinha chegado.
Porque ele não é como os outros.
Porque ele é a única excepção.

A presença dele faz parte de mim,
o perfume, as mãos, os olhos...

O que eu lhe digo não chega nem perto do que ele me diz,
que me deixa sem palavras,
só com um sorriso tolo.

Ele é o meu príncipe encantado,
mais perfeito que os príncipes dos contos de fadas.

Acordo com o rosto dele presente no meu espírito,
e adormeço com as palavras dele gravadas na minha mente.

Parece um sonho,
de tão bom e maravilhoso.
Mas sei que é realidade, doce realidade,
porque eu olho para aqueles olhos tão belos todos os dias,
em todas as tardes partilhadas.

Porque é que o amo?
Porque é que ele ganhou o meu coração?
Porque ele é a única excepção.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

"Waiting for forever"


Vieste de mansinho.
E nem sabias que vinhas!
Nem eu!

E eu desconfiei que, de uma maneira ou de outra,
tinhas vindo para ficar.

Não foi preciso muito tempo
para eu perceber que eras especial.
Que eras genuíno, verdadeiro e importante.

Uma semana depois,
parte da magia começou, naquele singelo almoço.
E no dia seguinte, outra vez.
E depois no dia a seguir.

Até eu tomar consciência de tudo o que se passava,
que gostava de sentir a tua mão a agarrar a minha,
de olhar para os teus LINDOS olhos verdes.

Até eu tomar consciência de que tu és o meu príncipe.


<3

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Vinhas sentar-te comigo, Ricardo


Vinhas sentar-te comigo, Ricardo, à beira do rio.
Sossegadamente fitávamos o seu curso e aprendíamos
Que a vida passa, e não tínhamos as mãos enlaçadas.
              (E eu queria tanto que as enlaçássemos.)

Depois, pensávamos, crianças adultas, que a vida,
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
               Mais longe que os deuses.
Palavras tuas...

Desenlaçávamos as mãos, porque tu dizias que não valia a pena cansarmo-nos...
Que quer gozássemos, quer não, passamos como o rio...
Que mais vale saber passar silenciosamente
              E sem desassossegos grandes...

Sem amores (como o meu), nem ódios, nem paixões (como a minha) que levantam a voz,
Nem invejas (e que inveja eu tinha dessa tua vontade de não te unires a mim, dessa tua ataraxia eterna) que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesses o rio sempre correria,
(E eu nunca fui peixe digno de atravessar o teu rio...)
               E sempre iria ter ao mar...

"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,"
Que nunca quiseste que trocássemos.
Pois, "mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
              Ouvindo correr o rio e vendo-o."

Dizias-me para colhermos flores, para eu lhes pegar e as deixar
No colo, e deixasse o seu perfume suavizar o momento - que embora eu ame as flores que colhíamos, nunca quis que nada suavizassem.
Se é que haveria, de facto, algo para elas suavizarem...
E neste momento não cremos em nada,
             "Pagãos inocentes da decadência."

E quando fores sombra, lembrar-me-ei de ti depois,
Com a tua lembrança a arder-me, a fitar-me e a mover-me,
Apesar de nunca termos enlaçado as mãos, nem nos termos beijado
              "Nem termos sido mais do que crianças."

E se antes de ti levar o óbolo ao barqueiro sombrio,
Tu nada terás que sofrer ao lembrares-te de mim... (a tua incessante ataraxia...)
Ser-te-ei suave à memória, para tristeza minha, lembrando-te assim - à beira rio,
              "Pagã triste e com flores no regaço..."

Como eu queria ter sido para ti o que tu foste para mim.
"We could have had it all."

- Lídia.


(poema inspirado numa resposta ao poema Vem sentar-te comigo, Lídia de Ricardo Reis.)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

"I'll Stand By You"

Nas horas boas, nas horas más.
Quando sorrires,
e quando chorares.
Nós vamos estar sempre aqui.

A vida às vezes é difícil.
às vezes parece injusta,
às vezes não nos dá o que queremos,
e dá-nos exactamente o que não queremos.
 
Mas nós temos sempre alguém que está ao nosso lado.
Há sempre alguém que nos limpa as lágrimas,
que nos diz: “Força, isto é só mais uma coisa que vais ultrapassar.”
Que nos apoia.
Que nos faz sentir melhor e nos faz ressurgir das cinzas, como uma fénix.
 
Podemos nem sempre dizer as palavras certas,
mostrar o quanto gostamos de ti,
mas esforçamo-nos sempre para dizer as palavras que te vão ajudar,
por mostrar o quanto gostamos de ti.
 
E nunca te esqueças que
“No fim, tudo fica bem. Se não está bem, é porque ainda não é o fim.”
Não estás sozinha.


(poema escrito para um amigo a pedido deste)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Pequena flor

Talvez a flor esteja a nascer.
Talvez.
Não sei, ainda. E não é por pensar nisso que vou saber.

É uma pequena flor, uma frágil flor.
Que já esteve perto de rebentar, mas nunca rebentou.

Olhar faz-me sorrir.

Esta pequena flor.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Ferida

A ferida parecia cicatrizada.
Tinha uma crosta relativamente sólida, que se pensava não se arrancar.

Mas bastaram aqueles segundos.
Aqueles escassos segundos e a ferida abriu.
Como se nunca se tivesse tido a crosta.

E agora flutuam memórias e recordações.
Que em vão se tentam enterrar.
Porque agora a ferida abriu outra vez.

Mas ela há-de fechar.
Porque ela já fechou uma vez.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Bom 2011!

Quero desejar a todos um Bom 2011, com muitos Poemas e Afins! Ahahah :)

quero apenas desejar que tenham todos muita felicidade, muita paz e muito amor.
Beijo grande!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal 2010

Desejo a todos um Feliz Natal, com tudo de bom, junto das vossas famílias, sempre em contacto com os que mais gostam, muita felicidade e muito amor!

“Stay beautiful” porque vocês são especiais à vossa maneira, apenas mudem para melhor!
FELIZ NATAL, e que para o ano ainda o festejemos!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Perdição

Agora relembro.
Durante dois anos.
Ele era o mais desejado ali.
Eu era a que mais o desejava.

Nada tinha a meu favor.
E o meu coração fervilhava.
Bastava o nome, um gesto.
E nem vou tentar descrever um toque.

Ele era veneno,
veneno num fraco irresistível.
Frasco esse que eu segurava na palma da minha mão.
Eu dizia que não bebia e que nunca iria beber.
Eu era mentirosa. porque era veneno que eu não conseguia recusar.
E quereria eu recusá-lo?

Eu segurava o frasco na palma da minha mão,
eu era o antídoto que ele segurava na dele.
Porque eu sabia que ele era a minha perdição, e talvez eu tivesse sido a salvação dele.

Porque apesar de eu segurar o veneno,
era o veneno que me segurava a mim,
era ele que me controlava e me tinha na palma da mão.


("He knows that if he wants me he can have me.")

domingo, 22 de agosto de 2010

(I)mortais



Eu sei.
Sei que às vezes não têm cabimento,
as palavras que eles dizem.
Mas eu perdoo.
Se é que há algo para perdoar.

São tão imperfeitos como todos nós,
Como os novos e os menos novos.

Eu sei.
Sei que um dia partirão para sempre.
Não sei qual será o primeiro e não sei qual será o último,
mas esta lei é para todos.

Eu sei.
Sei que um dia partirão para sempre,
mas lá no fundo, acredito que são imortais.
E quero que sejam.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Eclipse


Ali está ela.
Tem o mar e a floresta,
o fogo e o gelo para escolher.

Tudo é escuro,
as florestas e os mares.

E ela sabe o que escolheu,
escolheu o gelo.
E depois o fogo.
E escolheu o Eclipse.

Mesmo depois do Crepúsculo e da Lua Nova,
ela sabe que é o Eclipse.


(poema inspirado no livro/filme Eclipse. Não propositadamente.)

domingo, 13 de junho de 2010

Domingo


É domingo.
Visto uma camisa bonita e vou para a varanda.

O ar é quente.
Sento-me na cadeira e abro o livro onde o fechei da última vez.

O vento agita muito levemente os fios de cabelo soltos
e o único som audível é o dos pássaros a cantar.

É domingo.
Vesti uma camisola bonita e fui para a varanda.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Criação

Cria-se,
vai-se criando,
é criada.
Aquela música é criada,
aquele poema é criado.

Cria-se,
vai-se criando,
é criada,
é criação.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Singularidade

Caminha, sozinha, com passos decididos, naquele chão desigual.
Tenta parecer decidida, mas as suas decisões são sempre erráticas.

O cabelo escuro, de dois tons,
vai solto nos dias frios e quando ela quer;
vai apanhado nos dias quentes e quando ela quer.
A pele de alabastro está agora descoberta.

Não gosta do que vê no espelho na maior parte das vezes,
é raro achar que algo está bem.

Não se identifica com a maior parte das coisas,
não entende o mundo nem as pessoas.

Parece estar sempre a tentar provar algo a alguém,
como é diferente.

Sente-se (e sabe que) na maior parte do tempo está sozinha
e às vezes não sabe onde encontrar apoio.

Acha que as coisas mudaram,
mas talvez tenha sido ela quem mudou.
Ainda não sabe bem.

Pergunta-se como será que a vêem
e se realmente a vêem.

A expressão usual é a de testa enrugada e olhos ligeiramente cerrados.
Não sabe se a favorece, mas é a expressão que se lembra de sempre ter.

Caminha, sozinha, com passos decididos naquele chão desigual,
as mãos tocam o cabelo porque não têm mais o que agarrar.
E ela nem se dá conta do que está a fazer.
Nem se apercebe para onde vai.

Silêncio tranquilo


Sob aquele sol abrasador,
encontro-me na sombra reservada.

Os olhos semicerrados pela luz,
o corpo a destilar de alívio.

O asfalto mexe-se sozinho
e não há mais ninguém para o observar.

O silêncio é tranquilo
mas ao fundo ainda se ouve falar.

Está na hora de voltar.


("It's oh so quiet")

domingo, 11 de abril de 2010

Lembra-te de Mim


Dilacerado estás,
por dentro e por fora.

No teu caderno velho, dobrado e amarrotado,
lhe vais escrevendo, falando.
Tens saudades, mas não dizes a ninguém.

Nela e nos seus ímpares olhos azuis,
encontraste um apoio,
algum equilíbrio.

Quando tudo parece tomar um rumo,
partes, inevitavelmente,
e só pedes: "Lembra-te de mim".


(poema inspirado no filme Remember Me).

segunda-feira, 22 de março de 2010

Passos


Gosto de ouvir os passos sobre as lages,
gosto de ouvir os passos sobre as folhas,
gosto de ouvir os passos sobre o soalho,
gosto de ouvir os passos sobre o cascalho.

Gosto de ouvir os passos silenciosos,
gosto de ouvir os passos misteriosos,
gosto de ouvir os passos conhecidos e desconhecidos,
gosto de ouvir os passos escondidos.

Gosto de ouvir os passos e adivinhar de quem são,
gosto de ouvir os passos que pisam o chão.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Jarra

O suspiro cansado sai da minha boca.
Entro na sala para mais uma hora...
As mesas estão diferentes,
não há luz que entre,
vemo-nos todos uns aos outros.

O cheiro a campo, a flores,
faz-me ter saudades da liberdade,
do sol que queima,
da sombra que refresca,
da água que molha e aquece,
dos rostos diferentes que são iguais.

Com os olhos naquela jarra de flores,
sinto saudades daquela liberdade esquecida.


(Por esta altura já devia ter. Ainda não tenho.)

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Promessa


Eu tinha prometido.
Tinha prometido e em parte, cumprido.

Mas ao ver-te naquela noite de luzes,
nesse porte altivo,
nessas roupas que tão bem te ficam,
mais bonito que nunca,
a minha fraqueza cedeu.

Eu tinha prometido.
Tinha prometido e em parte, cumprido.
A minha fraqueza cedeu.
A barreira caiu. Outra vez.


(in just one week)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Capítulo


Foi perda de tempo,
de energia,
de palavras,
de pensamentos.

Ainda não tinha percebido,
na minha ingénua ingenuidade,
ridícula ingenuidade,
ou algo que não sei como se chama...

Encerro hoje,
de vez,
este capítulo.
("Were you just kidding? 'Cause it seems to me.")

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O pinheiro de longas e afiadas agulhas verdes


Depois da chuva miúda que caiu,
o sol, já nada ténue, rasga o céu,
pinta de mais claro as paredes brancas,
entra nas casas pelas janelas transparentes.

As nuvens brancas,
da cor das paredes,
encaixam-se no céu claro.

No pinheiro, de longas e afiadas agulhas verdes,
o vestígio escasso da chuva,
brilha com os raios de sol,
contrasta com o tom chocolate das pinhas.
Espreito da minha mesa,
o pinheiro verde brilhante,
que mesmo simples,
é deslumbrante.

O pinheiro verde de longas e afiadas agulhas


Depois da chuva miúda que caiu,
o sol rasgou o céu, mas agora desapareceu,
as paredes brancas ganham suaves sombras,
sai das casas pelas janelas transparentes.

As nuvens escuras,
tapam o céu,
raramente o deixam espreitar.

No pinheiro verde de longas e afiadas agulhas,
o vestígio escasso da chuva, secou,
contrasta com o tom chocolate das pinhas.

Espreito da minha mesa,
o pinheiro verde,
que passou a ser igual aos outros,
mas mesmo assim, deslumbrante.


("As coisas mais simples são as mais belas")

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O sorriso, a agitação


O sorriso, a agitação,
invadem a minha face,
o olhar ilumina-se, com o brilho na íris escura,
o tom rosado das maçãs do rosto, refresca a alma aquecida.

O sorriso, a agitação,
formam-se naturalmente,
fazem o ar cheirar melhor,
a flores, a Primavera,
fazem o sol ficar,
fazem os passos serem música,
fazem os sabores serem saborosos,
fazem o toque ser macio.

O sorriso, a agitação,
fazem o corpo e alma serem felizes,
fazem o Mundo mais bonito.

(esta flor, chamada Copo-de-Leite, significa Felicidade e Pureza)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Voz, letras apagadas


Muito se ouve, mas pouco se retém,
pouco se fala, mas muito se espera ouvir.

O tempo vai passando,
as nuvens correndo,
o sol aparecendo,
a noite voando.

E as palavras...
Continuo à espera do som dessa voz,
das letras apagadas.
(logotipo da Dreamworks)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Imersão


Imersão.
O corpo mergulhado na água, mergulhada na espuma, mergulhada na água.

Os ouvidos tapados, que só ouvem o borbulhar da espuma,
as mãos independentes, que se agitam na água, ondulando-a,
o nariz que absorve o vapor,
os olhos que se fecham e aspiram tranquilidade.

Submersão.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Frio, chuva, neve


O corpo encolhe-se,
os rostos arrefecem,
as almas aquecem,
os dias passam.

O frio, a chuva, a neve,
alternados e simultâneos,
envolvem o ar e a água.

As noites reaquecidas,
passam depressa e devagar.
Os dias suaves passam sem se dar conta.

Frio, chuva, neve.
(Imagem: “flores” de sal cristalizado que cobrem a superfície do Mar Branco na Rússia)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Episódio


Foi tão natural, tão simples, tão incrivelmente diferente.

Os risos nunca forçados que jorravam das nossas bocas,
as palavras nunca superficiais, ora ditas seriamente, ora sorrindo,
nunca eram más.

Da cumplicidade reatada e revivida,
da cumplicidade esbatida,
põe-se a questão de ter sido ilusão no lugar da oposta realidade.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Palavras. Ou a falta delas.


Nesta noite que tão a leste está de mim,
as tuas palavras ora doces, ora indiferentes,
não são para mim.

E eu que aguentei um dia tão cheio e tão vazio,
esperei para ouvi-las,
mas não ouço.
Elas não são para mim.
Não são para mim e talvez não sejam para mais ninguém.

Estás tão longe,
indiferentemente distante.

Tento as palavras certas para ouvir algo certo, errado ou nada disso.
Não importa, basta que digas alguma coisa.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Utopia(?)


O sol brilha, quente, no céu tão limpo, azul-claro.
O frio do dia mais frio, gela-me a cara, as mãos que estão fora dos bolsos.
Os meus passos são vacilantes neste chão incerto e as minhas pernas cortam o ar pesado e leve.

A minha cabeça nunca pára,
sempre de um lado para o outro
e a lembrança de palavras trocadas, assoma à minha mente.

Não sei defini-lo, é muito diferente do que já estou habituada.
Ou talvez seja eu quem quer que assim seja.

Mil perguntas que não tenho coragem te de fazer, percorrem a minha alma,
censurando-me pela minha cobardia,
ou pela minha prudência, não sei bem.

Tudo o que sei é que te sinto distante,
e os meus dedos pálidos tentam alcançar-te.
Mas a cada passo nosso, a distância entre nós aumenta, abrindo-se num abismo abismal,
que nem tu nem eu conseguimos atravessar.
E pergunto-me se os teus passos não serão utopia minha.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Memória


Havia tanto barulho, tanta agitação naquele passeio estreito,
com as pedras brancas da calçada a espreitar,
de olhos curiosos postos em nós.

Essa tua cara agastada,
o tom único da tua pele,
mostram o que eu já sei.

As tuas feições estão marcadas
pelo pó do tempo,
pelas consequências que não soubeste medir
e que te escuressem o rosto.

Mas os teus olhos escuros,
esses são os mesmos,
com o mesmo brilho que sempre lhes conheci
e do qual gostei como ninguém.

Olhá-lo outra vez,
foi ver tudo o que aconteceu há tanto tempo, mas que nunca esqueci.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Lua Cheia


Já está frio demais para estar fora de casa,
mas ainda o sinto cortante, na cara, nas mãos.

A luz já é fraca
e provém das poucas salas ainda a uso.
A escuridão abate-se sem ser preciso encará-la, o que, no entanto, faço.
Uma estrela tímida descobre-se no meio daquele barulho de que me abstenho.
Olho para todos os lados mas não vejo mais nenhuma, e aquela é tão bonita, tão brilhante...

Procuro então pelo mais importante: a Lua.
Tão perfeita e luminosa, Cheia,
querendo destacar-se naquele céu que quer ser escuro, mas ainda não é.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Bolhas de sabão


Olho para a caixinha, e logo me lembro:
recordações da pequena mãozinha que a segurava,
e a pequena boca que soprava.

Por magia, via as bolhas de sabão flutuar,
umas preferiam o chão,
outras as alturas.

Coloridas, de mil reflexos,
rebentavam divertidas,
uma a uma.

E agora, fazem o mesmo,
umas preferem o chão,
e outras as alturas.

Coloridas, de mil reflexos,
rebentam divertidas,
uma a uma.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Flor invernil


O sorriso que agora trago,
é como uma flor que decidiu florescer no Inverno,
depois de uma apatia imensa, pelo sol, pela água.

As coisas mudaram,
mas verdadeiramente nada mudou,
nada é novo.
Acho que fui eu que mudei.

As razões são desconhecidas,
ou talvez difíceis de mostrar.

É como uma flor que decidiu florescer no Inverno.


(esta foto tem direitos de autor: Christina Ramos "Chris" em http://exposicaoaberta.blogspot.com/)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Branca de Neve


"Lábios vermelhos como uma rosa,
cabelo negro como o ébano
e pele branca como a neve.
Ela é a mais bela".

Memória de princesa preferida,
de músicas esquecidas,
gestos escondidos.
Nostalgia permitida.

As caras doces,
os olhares gentis,
trazem a alegria passada
e o medo tonto de criança.

A perfeição da inocência
e a inocência da perfeição,
ali, numa história de crianças.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Estado


O caminho de pedras de calçada
branco sujo,
com a grade, os arbustos de folhas grandes de um lado,
o vazio, o barulho, as máquinas mortas do outro,
dizem-me que tenho de ir.

Quero voltar para trás, mas as pernas avançam maquinalmente,
como se alguém lhes tivesse dado corda
num segundo de distracção.

O vento, gentilmente, refresca a minha cara, gelando-a.
Ergo a cabeça para o céu, num suspiro conformado
e vejo-o cinzento.
Um cinzento escuro, muito escuro,
terrivelmente escuro, quase tão escuro como carvão,
onde as nuvens movem os corpos indefiníveis, rapidamente,
numa sensação de desânimo permanente.

Ora desabafam chorando grossos pingos de chuva que caem furiosos no asfalto culpado,
ora disfarçam o choro com a chuva que mal se sente,
que cai surdamente nas folhas caídas, secas, por estalar.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Desabafo




Desvaneceu-se sem me ter apercebido.

Era uma amizade disfuncional,
mas era amizade.
Agora, olhas para mim como se fosse uma estranha,
e é o que acabo por ser,
tal como tu acabaste por sê-lo para mim.
Mas já não há retorno, manternos-emos assim.

Talvez a culpa tenha sido minha, talvez,
mas pura e simplesmente não podia aguentar mais.

Lamento.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Estilhaços de uma noite


Destruído, estilhaçado, dilacerado...
Tudo acabou...

Num segundo, aquilo que era perfeito,
a única coisa que me fazia suportar tudo e todos,
saltou com força das minhas mãos escorregadias,
caindo, inevitavelmente, no chão duro de pedras negras, que se riem de mim,
que troçam da minha ingenuidade,
estilhaçando-se em mil pedaços.

Caio sobre aquela destruição,
que me destrói lentamente o corpo e a alma.
As lágrimas escorrem pela minha cara,
terminando no todo que agora está dilacerado,
fazendo eco, um eco sem som, que ecoa na minha cabeça,
tombando-a no chão.

As minhas mãos sem vida procuram
os pedaços do que está acabado para sempre.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ensaio


A vida vai passando pelos meus olhos,
pelo meu corpo,
pela minha alma.

A cada segundo,
a minha maneira de olhar o mundo,
o meu corpo, a minha alma,
mudam.

E talvez não seja uma boa mudança,
ou talvez seja.
Não sei e acho que ninguém sabe.

E sinto que sou a única,
e não sou...
Bem, realmente não sei.


(originalmente escrito em Inglês)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

?


A vida é um eterno ponto de interrogação.
Tudo é pergunta,
mas nem tudo é resposta.

Queria acabar com as perguntas,
os pontos de interrogação,
e pôr um ponto final.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ilusão


Estúpida ilusão.
Como pude?
Estúpida ilusão.
Evitá-la foi tão impossível,
agora é inevitavelmente frustrante.

A estúpida ilusão que me perseguiu
naquela memória que quero apagar,
daqueles olhos tão hipnóticos
que me olharam tão fixamente,
obrigando-me a desviar os meus.

Já esqueci tudo isso,
aquele olhar intenso...
Ou pelo menos tento.

domingo, 18 de outubro de 2009

Aqueles olhos

Aqueles olhos azuis esverdeados,
aqueles olhos verdes azulados,
que tão bem me prenderam,
naquele momento tão hipnótico.

Aqueles olhos
que me vêem ao pensamento
a todo o instante
e não me deixam esquecê-los.

Aqueles olhos azuis esverdeados,
verdes azulados,
que nem consigo definir,
mas não consigo esquecer.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Saudades


Saudades de muitas coisas
que significavam pouco
e agora significam muito,
saudades de poucas coisas
que significavam muito
e agora significam pouco.

Saudades das manhãs passadas,
em que voltava a ser criança.

Saudades das tardes,
partilhadas com uns e outros.

Saudades das noites esvoaçantes,
que não voltam.

Tudo se foi,
tudo o tempo, o vento levou.
Talvez volte ou não.
Talvez venha algo.
Quiçá.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Não sei


A torrente soltou-se dos meus olhos de água,
sentida como há muito não era,
deixou aquele sabor amargo na boca angustiada,
no rosto toldado,
na alma contorcida.

Os cabelos molhados tapavam-me a face que sofria, encharcada,
ao som do coração desenfreado.

Não digo que sei,
preferindo acreditar e fingir que não sei.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Oca


Desprovida de sentimentos,
desprovida de emoções,
desprovida de palavras,
desprovida de pensamentos.

Oca.
Vazia.
Oca.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Sufoco


Peço a Deus ou a alguém,
que faça o tempo andar mais depressa,
para poder sair deste sufoco.
Mas de cada vez que olho para os ponteiros do relógio,
passaram, no máximo, cinco minutos.

A vontade de sair dali,
daquela sala que parece sufocar-me,
parece querer sufocar-me ainda mais.

Mas, tudo, tudo acaba.

Renovações


Grandes renovações vêm aí,
sinto-o.
Sinto-o a cada golfada de ar que inspiro,
a cada pedaço de chão que piso.

Muitas coisas parecem querer mudar.
Nada versáteis, parecem não se ter adaptado a mim e à minha vida.
Parecem querer mudar por tempo limitado...
Ou ilimitado, não sei.

Grandes renovações vêm aí,
sinto-o.
Sinto-o a cada palavra proferida,
a cada segundo trespassado.

Grandes renovações vem aí,
sinto-o.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Coisas


Coisas complexas,
desconexas,
incompreensíveis,
irredutíveis.

Parece que tudo é assim,
coisas demasiado intensas,
demasiado angustiantes,
demasiado complicadas.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Alice


A Alice do País das Maravilhas
adormeceu e teve o sonho da sua vida,
como se toda a sua existência se tivesse passado ali, no País das Maravilhas,
onde tudo acontece.

Inocente criança que cai na toca do coelho.
E então, tudo muda.

O País das Maravilhas, irreal,
onde tudo acontece,
onde a noção se perde.
(obrigada ao Jorge, mais uma vez)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Desânimo


Senti o desânimo invadir-me,
atacar-me com toda a força,
sem me dar tempo de o impedir.

Fui para mais perto da rua,
olhei o céu negro da noite,
em busca do consolo das estrelas,
mas nem isso tive.

Fechei os olhos num instante
e senti o vento trespassar tudo.

Só preciso de ouvir o vento
para saber que tudo ficará bem.

sábado, 29 de agosto de 2009

É real?


Na habitual conversa,
ele mostrou-me aquela fotografia,
de que ele tanto tinha gostado,
partilhando-a comigo.

Olhei-a atentamente,
aquela aura mágica enfeitiçou-me imediatamente,
como se do pó da varinha de condão de uma fada se tratasse.

Aquele imenso verde
que habita naquelas paredes,
naquele chão,
aquelas flores...

É real?


(ao Jorge, mais uma vez obrigada por me dar a oportunidade de escrever sobre estas maravilhas. Dedicado a ele)

Rosa


A Rosa no jardim
de terra seca
e poucas plantas,
é vermelha cor de sangue.

A Rosa chora,
caída, murcha,
sozinha, abandonada,
triste, inconsolável.

A Rosa clama,
por alguém que lhe dê vida,
que a chame de "perfeita",
que lhe chegue ao coração.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O cair da noite

O sol já vai ao encontro do horizonte,
mas a noite ainda nem caiu.
A lua já se acomodou,
já está sentada no céu azul claro.

As estrelas ainda se estão a arranjar,
ainda não chegou a sua hora,
ainda não chegou a hora do espectáculo,
a hora de iluminar o céu com a lua.

Ainda não chegou a hora
que chega docemente.

domingo, 23 de agosto de 2009

Pedaços de chão


Naquela água tão límpida,
onde lhe vejo o fundo,
ajoelho-me no chão
e mergulho as mãos na areia.

Com as mãos em concha,
agarro um pedaço de chão
e observo as pequenas pedrinhas,
tão pequenas e brilhantes.

Atiro-as dentro de água
e vejo-as pairar, por pouco tempo,
até caírem nas minhas mãos,
ou no fundo.

Pedaços de vida e de tempo.
Pedaços de chão.

sábado, 22 de agosto de 2009

Flor de Lótus


Tão simples,
a Flor de Lótus mora nos lagos,
junto dos nenúfares,
junto dos peixes.

Poucos reparam nela,
e isso fá-la chorar pétalas de desgosto.
Os peixes tentam consolá-la, saltando no lago,
os nenúfares choram com ela lágrimas de orvalho.

A Flor de Lótus mora nos lagos,
junto dos nenúfares,
junto dos peixes,
chora pétalas de desgosto.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Flor de Algodão


A Flor de Algodão,
tão frágil, tão delicada,
parece querer tocar no céu quando é agitada pelo vento.

A Flor de Algodão,
tão macia, tão suave,
parece querer dizer para a apanharem.

A Flor de Algodão,
tão valiosa, tão intocável,
parece querer mostrar a sua preciosidade.